Quem jogou AC: Syndicate se deparou com missões que se passam no contexto da Primeira Guerra Mundial. Mas, como nem sempre os dados fornecidos pelo game são o bastante, a Masyaf News preparou um resumo deste importante evento da História universal.
Uma das questões mais difíceis de se entender é: por que a Primeira Guerra se desencadeou? A resposta pode ser obtida simplesmente pela compreensão de que os países europeus (incluindo a Inglaterra, França, Alemanha, Império Austro-Húngaro, Rússia e até mesmo o "meio-europeu" Império Turco-Otomano) estavam em absoluta expansão de seus poderios militares e econômicos, na tentativa de, em termos vulgares, "abocanhar", cada um, um pedaço de terras além da própria Europa. Ou seja, a África e a Ásia.
Junto a isso, havia uma série de problemas que assolavam cada país em questão de maneira particular: revoluções e atritos de território dos impérios, por exemplo. Imagine que cada uma dessas nações era um organismo que, se tentasse suportar mais qualquer outro tipo de pressão, viria a descontar suas frustrações de todas as formas possíveis. Como se não bastasse o atrito (inclusive cultural) dentre as diversas nações, havia a xenofobia: o ódio dos germânicos pelos eslavos e o ódio dos franceses pelos germânicos e vice-versa.
Até que, um belo dia, o arquiduque Francisco Ferdinando e sua esposa decidiram fazer um passeio pelas ruas de Sarajevo, na Áustria-Hungria. Radicais sérvios, ditos terroristas, atacaram o casal em uma emboscada pela rua, o que levou à morte dos dois. Este foi o dito estopim que levou o mundo à entrar na Primeira Guerra Mundial: um pretexto para que os países rivais aderissem às armas.
De um lado, aliaram-se França, Inglaterra e Rússia; do outro, Alemanha, Império Áustro Húngaro e Itália. Esta ficou conhecida como Tríplice Aliança; aquela, como Tríplice Entente (não confundir com as alianças da Segunda Guerra Mundial). A Rússia, devido a questões intranacionais, mudou de posição ao final da guerra.
Esta guerra foi totalmente diferente do que estamos acostumados. Como a tecnologia bélica ainda estava em processo de novas descobertas, a guerra - que durou de 1914 a 1918 - ocorreu de maneira relativamente lenta. Porquanto os soldados ficassem semanas dentro de uma mesma trincheira, de onde havia a grande probabilidade de contraírem tifo e outras doenças, era raro que ocorressem batalhas verdadeiramente diretas. Às vezes, quando tinham oportunidade, alvejavam o inimigo do outro lado após dias esperando por algum movimento. A porção de terra entre essas trincheiras ficou conhecida como Terra de Ninguém, por, literalmente, não pertencerem a nenhuma nação.
Soldados britânicos usam máscaras para se protegerem do gás mostarda. Imagem disponível em: http://media.iwm.org.uk/iwm/mediaLib/167/media-167746/large.jpg
Por sua vez, embora houvesse batalhas extremamente intensas, como a Batalha de Somme (1916), de modo geral, os soldados não se odiavam. Em 1914, por exemplo, na noite de Natal, as tropas de ambos os lados do front compactuaram com uma trégua: houve troca de presentes e passaram a noite bebendo com seus inimigos, para que no dia seguinte cada um voltasse para suas trincheiras e lutassem sem vontade.
A Primeira Guerra Mundial foi a última a trazer consigo as tradições das batalhas iluministas, em que ondas de soldados se confrontavam de frente. Com a "estreia" de armas como a metralhadora fixa, o tanque de guerra, os gases venenosos, o avião e o submarino, porém, sabe-se que a guerra mundial seguinte foi de longe mais sangrenta. Mesmo assim, todo o cenário destruído dentre lama e fumaça transformou a Primeira Guerra Mundial em um ícone de ruptura da belle-epòque, da qual se acreditava que seria duradoura e que o século XX seria um século de paz.
Para o historiador Eric Hobsbawm, em sua obra "A Era dos Extremos", não houveram duas guerras mundiais; mas apenas uma com um intervalo de paz, já que a segunda decorreu diretamente da primeira, quando Hitler afrontou o Tratado de Versalhes, que foi imposta pelos vencedores: a Tríplice Entente.
Cássio Remus de Paula
Historiador
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