“No Egito, o tempo é
mais lento. Há que saber esperar” – Christian Jacq, egiptólogo.
A
fala de Jacq provavelmente é referente à “demora” de mais de 4 mil anos de
império desta civilização africana que protagoniza o próximo Assassin’s Creed (Origins). Tanto tempo
de cultura presente resultou em influências inapagáveis de nossos métodos de
vida, da arquitetura ao militarismo, dado que ajudou a moldar outras grandes
civilizações, como a grega e a romana.
O
Egito, por sua vez, parece ter ascendido quase ao mesmo tempo que Roma, Grécia
e também a Babilônia. Estas quatro nações consolidam a História Antiga, que
abrange desde a invenção da escrita até a queda do Império Romano, por volta de
476 d.C. Ou seja, o Antigo Egito – nome referente à sua periodicidade durante a
História Antiga – participou de praticamente todo este recorte temporal.
Por
sua vez, o Egito já existia antes desse
recorte, ou seja, as heranças da cultura neolíticas se fixaram pelo delta do
rio Nilo: entre 4600 e 4200 a.C., os povos ali instaurados plantavam, caçavam e
pescavam, além de fixar moradias e praticarem tecelagem, cestaria e olaria. O
Nilo, com um comprimento de quase 7 mil km, foi o verdadeiro motivo pelo qual
os povos migraram para esta região, ainda por que na África nenhuma outra fonte
hidrográfica era e é tão rica quanto este delta.
Os
inúmeros clãs que ali se fixaram resultaram em guerras diárias que marcaram o
cotidiano dos primeiros egípcios. O clã do Rei-Escorpião, por sua vez, se
sobressaiu sobre os demais. O Rei-Escorpião, dado o número de conquistas sobre
os demais, já se autodenominava rei da porção sul do território egípcio (área
conhecida como Alto Egito, devido à região “alta” do rio Nilo). Exibia até
mesmo uma coroa branca que o apontava como monarca daquela região, em contraste
com a coroa vermelha que viria a simbolizar o Baixo Egito. Com suas tropas,
porém, vem a submeter os povos da região norte, totalizando quilômetros e quilômetros
sob seu controle.
Assassin's Creed: Origins |
Graças
a seu controle como monarca que a civilização egípcia começou a se erguer como
importante império da história. A partir disso a atividade econômica passou a
ser controlada e as vilas aumentaram de tamanho. O rei ordenou abertura de
canais e fluxo constante de tráfego de mercadorias, além de perceber a
importância do Nilo em seus ciclos de cheias (por exemplo, o armazenamento de
água em bacias depois das inundações).
Fixado
na cidade de Hierakonpolis, o rei era tratado como uma entidade divina. De
acordo com Christian Jacq, “antes do advento do rei-Escorpião, a civilização
egípcia não existia. Podemos falar apenas de culturas locais cujas produções
artesanais eram mais ou menos bem-sucedidas”. Ou seja, como primeiro rei do Egito,
especula-se que o Escorpião iniciou uma dinastia que podem compreender até
sessenta reis e sete rainhas, englobando diversos séculos de governo. Por sua
vez, mesmo com referências da submissão do povo nortenho, data-se que o Egito
não foi unificado até antes do faraó Menés (por volta de 3000 a.C.). Nesse
ínterim, Alto e Baixo Egito travaram inúmeras batalhas, em uma constante guerra
de domínio territorial.
Hieróglifo egípcio contendo figuração do Rei-Escorpião. |
Onde
Assassin’s Creed: Origins se encaixa
nisso tudo? Milênios de anos depois, mais ou menos em 80 d.C.. Mas como já foi
dito, no Egito tudo ocorre de maneira lenta, o que significa que a cultura
mudou muito pouco dentro deste recorte temporal. Seu império estava prestes a
morrer, subjugado pela influência romana, mas sua contribuição cultural já era
tida como eterna (já pararam pra pensar que e acordo com o período de
existência do império egípcio, Cleópatra (mais ou menos em 80 d.C) está mais
próxima de NOSSA história que da construção da pirâmide de Gizé, por volta de
4500 anos atrás?).
A
historiadora e gamer Maytê Vieira,
atualmente doutoranda na UFPR (que de longe entende a história egípcia melhor do
que eu), deu sua opinião sobre o trailer de Origins:
“Acredito que terá muita ação e que deram uma repaginada geral aproveitando o
imaginário do Antigo Egito, que ainda é muito forte. Mas me parece que tem
algumas coisas misturadas, como aquela cena em que aparece uma arena romana. O
narrador parece ser um egípcio e os Assassinos surgiram lá, mas para combater o
quê? São muitas perguntas que teremos que esperar, porque os templários
surgiram séculos, milênios depois. Se eles incluírem os templários no Egito,
vão assassinar a cronologia histórica
que estava sendo bem fiel até agora (um baita anacronismo). Resta-nos esperar,
e eu confesso, estou ansiosa!”.
Acho
que todos estamos! Pela primeira vez na saga de Assassin’s Creed, após nove títulos canônicos, decidiram “voltar no
tempo” para bem antes do primeiro título. Admito que sempre sonhei, como muitos
outros jogadores, com um Assassin’s que
retratasse o Antigo Egito. Qual é sua expectativa para esse jogo, caro leitor?
Espero
que tenha aproveitado a leitura. Fique de olho na cobertura da MASYAF NEWS para
mais novidades!
Cássio
Remus de Paula
Historiador
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